sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Pagamento de diárias de Policiais Rodoviários Estaduais estão atrasadas desde 1º de janeiro

Carlos Augusto e Lorenço Oliveira

LN – Os Policiais Rodoviários Estaduais que participam da Operação Verão 2015 no Litoral Norte estão com as diárias atrasadas desde 1º de janeiro. Dois policiais, que preferem não se identificar, informaram ao jornal e rádio Momento que a equipe convocada para trabalhar na temporada está tendo que arcar com os custos do próprio bolso.

De acordo com os policiais, há um “descontentamento geral” dos patrulheiros em razão da falta de motivos para o não pagamento. “Estamos tendo que pagar para trabalhar! E não há previsão de quando o Estado irá pagar as diárias”, reclamou um deles.

Para atender a demanda do veraneio, foram convocados 190 agentes rodoviários para a chamada Operação Verão, que começou no dia 20 de dezembro. Os policiais, de diversas regiões do estado, recebem R$ 123 por dia para quitar despesas.

Questionado sobre a possibilidade de parar as atividades, o policial disse que não existe movimentação clara para paralisações, mas fez um alerta: “Se não houver pagamento, muitos vão arrumar suas coisas e ir embora para sua cidade, por que não há condições de continuar”.

O Comandante do 3º Batalhão Rodoviário, que coordena a Operação Verão, Major Ulisses Denardi, não se manifestou sobre o caso até o fechamento desta edição, pois estava em reunião em Porto Alegre.

*Matéria publicada no jornal Momento do dia 30 de janeiro de 2015

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Estado deve liberar R$ 1 milhão para pagar salários no hospital de Osório

Funcionários do Hospital de Osório ainda não receberam pagamento de dezembro. Promessa do Estado é pagar a partir da semana que vem. Sindicato não descarta greve

Funcionária trabalha durante vistoria dos bombeiros em 19 de dezembro, mês cujo salário está atrasado Foto: Lorenço Oliveira/Arquivo Momento

Lorenço Oliveira

OSÓRIO – Os salários referentes ao mês de dezembro dos funcionários do Hospital São Vicente de Paulo deverão ser pagos até semana que vem. Os pagamentos foram prometidos pelo Secretário Estadual da Saúde João Gabbardo dos Reis através de um socorro extraordinário de R$ 1 milhão de reais. A informação foi confirmada ontem pelo Presidente da instituição Francisco Moro. Apesar disso, o Sindisaúde-RS não descarta a possibilidade de greve.

Em entrevista ao programa Comunidade Ativa, na rádio comunitária Momento FM (98.1), Moro explicou que o Hospital está com grandes dívidas. “Eu pedi R$ 3.052.553,70 [ao secretário]”, pontuou o Presidente. “Estou com muitas contas para pagar. Há muitos fornecedores atrasados que eu pedi compreensão. Felizmente, todos estão compreendendo a situação”.

O Sindisaúde-RS, sindicato que representa os profissionais do Hospital, fizeram pressão na semana passada, lançando uma possível greve. Moro disse que pediu ajuda ao Deputado Federal, Alceu Moreira (PMDB). “Ontem [terça, 20] eu recebi a ligação do Alceu dizendo que tinha conseguido marcar uma audiência com o secretário às 16h30”, relembra. “Então, eu estava com o telefone na mão para ligar para o sindicato [Sindisaúde-RS], quando me deparei com três integrantes da classe na minha frente lá no hospital. Então, expliquei a eles o que iria acontecer”.

João Gabbardo dos Reis prometeu a Francisco Moro que “a primeira coisa a ser feita na manhã desta quarta-feira”, seria encaminhar um pedido de socorro para a comissão do Estado que está tratando de questões emergenciais. “E o secretário entendeu que a questão do hospital de Osório é emergencial”, disse Moro, que pediu socorro para quitar também os vencimentos de janeiro. Segundo o Presidente, os salários deste mês [janeiro] devem chegar nos primeiros dias de fevereiro, podendo atrasar, no máximo, uma semana.

Durante a reabertura do Hospital, no dia 24 de dezembro, a então Secretária Estadual da Saúde Sandra Fagundes havia assinado o contrato entre o Estado e a instituição. Moro revelou que o contrato levou ainda 15 dias para ser oficializado. “Sabe quando saiu no Diário Oficial do Estado? Em 7 de janeiro”, exclamou Moro, com a cópia da publicação nas mãos que oficializa o contrato de R$ 1,95 milhão. “É assim que a coisa pública funciona”, alfinetou.

Ex-Secretária Estadual da Saúde, Sandra Fagundes, e Presidente Francisco Moro durante cerimônia de reabertura do Hospital em dezembro Foto: Lorenço Oliveira/Arquivo Momento

Segundo a assessoria de imprensa do Sindisaúde-RS, o Presidente do sindicato Arlindo Ritter recebeu a informação de que, no próximo dia 26 de janeiro, a Prefeitura de Osório receberá do Estado R$ 500 mil para repassar ao Hospital. O valor será utilizado para o pagamento dos atrasados de dezembro. E que no dia 6 de fevereiro, outros R$ 500 mil devem chegar ao município para o pagamento dos salários referentes a janeiro. O Sindisaúde-RS declarou, no entanto, que “os profissionais estão no limite” e que caso não sejam efetivados os pagamentos, “haverá indicativo de greve” em Osório.

Blocos cirúrgicos e obstétricos reabrirão na segunda-feira

O Presidente do Hospital Francisco Moro adiantou que os três blocos cirúrgicos e o bloco obstétrico serão reabertos na próxima segunda-feira (26). “Ontem [terça, 20] eu recebi da Vigilância Sanitária do Estado o alvará para reabrir os blocos”, confirmou Moro, que está, agora, “correndo atrás de médicos” para trabalhar nos setores.

Emergência do Hospital devem voltar a funcionar até fim de março

Ainda em entrevista, Francisco Moro não quis colocar uma data para a reabertura da urgência e emergência do Hospital. “As obras estão na reta final, está para ser concluída”, garantiu. Moro espera que até fim de março o setor esteja funcionando.

O Presidente explicou também que a ala pediátrica, que passou por reforma, está finalizada, mas não pode funcionar pela falta de energia elétrica. “O atual gerador não comporta todo o prédio, por isso está sendo instalado um mais moderno, que deverá suprir mais 2/3 do hospital”, disse.

A Prefeitura de Osório investiu cerca de R$ 300 mil para ampliar e proteger a rede elétrica, interligando a subestação de energia aos prédios e blocos do Hospital. A empresa vencedora da licitação terá 90 dias para finalizar o serviço, que vai possibilitar a reabertura total da instituição. Por enquanto, a orientação segue sendo encaminhar urgências ao Posto Central de Saúde Dr. Flávio Silveira (Rua Garibaldi, 255 – Centro).

*Matéria publicada originalmente na capa do dia 22 de janeiro do jornal Momento.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

#MECA: Cena indie londrina invade Litoral Norte

Em sua quinta edição, MECAFestival volta a Fazenda Pontal e contagia cerca de 5 mil pessoas com grupos ingleses e nacionais no último sábado (17), em Maquiné

Iluminação do La Roux tirou o rosto de Elly de evidência
Texto e fotos | Lorenço Oliveira

MAQUINÉ – Uma experiência musical única no Litoral Norte. “O maior menor festival de música do mundo”, como os organizadores do MECAFestival se intitulam, tornou-se a relíquia entre os grandes eventos que ocorrem na região. Não há nada parecido, pois não há governo que faça algo tão bem pensado e organizado. É claro que nem tudo são rosas. Mas no MECA, muitas foram as rosas neste último sábado (17) e podem servir como belos exemplos para eventos futuros.

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Primeira rosa: o local: Hotel Fazenda Pontal, localizado no km 2,5 da ERS-407, trecho que liga o distrito de Morro Alto a Xangri-Lá. Apesar da falta de sinalização aos visitantes, o acesso foi fácil e não apresentou grandes problemas. Muitas pessoas reclamaram que, por o evento ser de bebida liberada (open bar de cerveja), o deslocamento seria difícil. Não foi o que aconteceu. A grande maioria dos jovens decidiu utilizar transporte coletivo: táxis, vans, micro-ônibus e ônibus. Os preços variaram de R$ 20 a 70. Alguns fizeram bate e volta Porto Alegre-Maquiné.



É claro que teve aquele que não quis depender disso e foi com seu próprio veículo. Para a surpresa destes: blitz policial. A Policia Rodoviária e a “Balada Segura” estavam na boca da saída, que aconteceu por volta de 2h da madrugada. No entanto, algo que não é novidade se repetiu: flanelinhas cobravam a partir de R$ 100 para dirigir pelos donos dos carros, a fim de passar pelas barreiras.

Segunda rosa: artistas de alta qualidade. O prodígio Erick Endres abriu os trabalhos no palco às 17h. O filho do guitarrista da banda gaúcha Comunidade Nin-JitSu, Fredi Endres, arrepiou quem não esperava por um rock puro e de altíssimo nível. O som de Erick, que está para completar 18 anos, é basicamente autoral, mas seu show no MECA ainda contou com um cover de John Frusciante, um de seus ídolos junto com Jimi Hendrix e Jack White.

Em razão do trio inglês Years&Years estar finalizando um álbum em Londres, duas bandas nacionais entraram no lugar. E não deixaram a desejar. O Mahmundi e o Boogarins agitaram o público exigente do MECA.

Boogarins

Terceira rosa: a chuva. Antes da banda gaúcha Wannabe Jalva começar a tocar, algo esperado: uma forte chuva despencou na Fazenda Pontal. Apesar das poças e do barro que se formaram em algumas partes, a precipitação não foi um inconveniente. Se o MECA já tinha como lema “celebrating love through music” (em inglês: celebrando amor através da música), cai bem a definição de “Woodstock” para o clima que se consagrou naquele momento. Alguns receberam a chuva com uma grande ovação, sem se preocupar com os calçados, e dançaram loucamente próximo dos clubinhos, ontem centenas se aglomeravam para fugir de se molhar.

Wannabe Jalva
Quarta rosa: os clubinhos. Os locais reservados aos parceiros do evento, como a Youcom, o Beco203 e o IHateFlash, foram tomados pelos visitantes durante os intervalos dos shows. Ali, DJs faziam festas paralelas, onde o pessoal descontraia ou tomando um sorvete, ou fazendo uma tatuagem, ou até cortando o cabelo. Uma coisa é certa: não faltou o que fazer dentro destes espaços.

Quinta rosa: gastronomia. Além de reunir todo o pessoal do skate, das artes plásticas e da música underground, o MECA proporcionou um diferencial destacado por muitos. A “praça” de alimentação consistiu em vários foodtrucks, moda que pegou neste verão no Litoral Norte. Pueblo, Jápesca e Destemperados foram algumas das comidas de rua do evento.

É óbvio que houve filas. Mas não chegou nem perto do que se vê em outros grandes festivais do país, como Lollapalooza. Nos veículos do Destemperados, foram consumidos cerca de mil “Pancho do Pepe”.

Sexta rosa: não faltou cerveja. O serviço de bebida liberada de cerveja (open bar) foi bom. Em certo momento, alguns bares chegaram a negar a bebida aos visitantes, mas por um motivo claro: não estava totalmente gelada. Assim, eles eram indicados a procurarem outros bares, onde havia cerveja em condições de consumo.

No quesito banheiros, talvez o MECA tenha deixado um pouco a desejar e muitas pessoas acabaram fazendo suas necessidades no mato. Exatamente. No escuro, entre as árvores.

Sétima, oitava e nona rosas: La Roux, AlunaGeorge e Citizens!. Foram os três shows internacionais e que atraíram a maior parte do público. Todos vieram de Londres e são quase desconhecidos pelo grande público. “Qual é a banda que você veio ver no MECA?”, perguntei para uma garota que estava longe do palco. “Não conheço nenhuma, vim mais pela vibe”. Essa foi uma das respostas que mais ouvi durante a festa. Mas antes que o leitor pense que isso seja ruim, a maioria dos jovens voltou para casa satisfeita.

Tom Burke (Citizens!) num dos melhores shows da noite
Pela segunda vez em Maquiné, os caras do Citizens! fizeram, talvez, um dos melhores shows da noite, apesar da maioria das músicas tocadas serem do disco inédito. O hit indie True Love foi a musica mais lembrada. Ao final, o vocalista Tom Burke se jogou na platéia, conquistando, assim, ainda mais a fidelidade do público.

Aluna Francis (AlunaGeorge) fez o público pular no MECA
Aluna Francis, a vocalista do dueto de música eletrônica AlunaGeorge, fez o público pular. You Know You Like It, de 2013, fez parte do set da dupla. Foi a primeira apresentação da dupla no Brasil.

Elly Jackson subiu ao palco próximo da 1h da madrugada e não desfez seu topete durante toda a apresentação. A vocalista do duo La Roux dançou e empolgou o público do início ao fim. Com uma iluminação contraluz, que desfavorecia o seu rosto, Jackson encantou os espectadores com uma dança elegante. Alguns desconfiaram que a cantora tivesse utilizado playback, o que não foi confirmado pela assessoria do MECA. No entanto, o hit Bulletproof foi cantado em coro pela platéia e encerrou o primeiro show de La Roux no Brasil.

La Roux encerrou seu show com Bulletproof

E o MECAFestival não terminou aqui. No domingo (18), os três headliners (La Roux, AlunaGeorge e Citizens!) ainda correram para a Estação Leopoldina, no bairro Santo Cristo no Rio de Janeiro (RJ), para mais apresentações. Na sexta (23), no Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho (MG), ocorre uma edição especial do MECA, com AlunaGeorge e Citizens!. E no sábado (24), os três grupos de Londres fazem show no Campo de Marte, em São Paulo (SP).

*Reportagem publicada originalmente no dia 21 de janeiro de 2015 no jornal Momento.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Editorial: Ser ou não ser Charlie?

Lorenço Oliveira

Capa do Charlie Hebdo, após os ataques
que mataram 12 pessoas em Paris:
"Tudo está perdoado"
O leitor do Momento sabe que há anos este diário não aborda questões internacionais. Por motivos lógicos, as notícias veiculadas aqui são locais, regionais e, no máximo, nacionais. Apesar disso, o jornal entende que não há como ignorar alguns fatos globais. Economia e política, por exemplo, estão intimamente ligadas ao noticiário de fora do país. A crise financeira de 2008 ilustra bem como um fato externo pode alterar a nossa vida, além de entrar para os livros de história.

Na quarta-feira passada (7), a sede de um jornal satírico francês, Charlie Hebdo, foi invadida por três terroristas que mataram 12 pessoas e deixaram vários feridos no centro de Paris. A França emitiu um alerta máximo contra o terrorismo e iniciou uma caçada aos atiradores. Após um cerco de três dias, eles foram localizados e mortos por agentes franceses.

Houve uma grande comoção mundial, principalmente nas redes sociais, onde pessoas manifestaram seu apoio ao jornal declarando “eu sou Charlie” (no francês je suis Charlie). No domingo (11), 3,7 milhões se reuniram em marchas contra o terrorismo, incluindo líderes de diversos paises, entre eles Israel e Palestina. Foi o maior protesto da história da França.

Mas o leitor deve se perguntar: por que este fato é tão importante que precise estar num jornal local? Nós respondemos: a liberdade de expressão.

O Charlie Hebdo nasceu em 1969, na esteira das históricas manifestações de Maio de 1968, considerado uma versão francesa do Pasquim brasileiro. Sempre provocativo e com opiniões fortes, o semanário traz charges e piadas com famosos, empresas, governos e religiões. O fundamentalismo islâmico foi um dos últimos alvos do humor de Charlie. A Al Qaeda do Iêmen assumiu a autoria do atentado da semana passada, que não foi dirigido apenas ao ser humano. Foi um golpe certeiro à liberdade de expressão.

O jornal Momento é Charlie. Mas o leitor pode não concordar com as piadas dos franceses e até evocar que “não é Charlie” (je ne suis pa Charlie). Afinal, o semanário já satirizou o profeta do islamismo Maomé e o fez, novamente, em sua capa mais recente (a edição foi traduzida para 16 idiomas e teve tiragem de 5 milhões de exemplares). No entanto, a liberdade de expressão e crítica merece ser preservada e protegida. Tanto para quem é ou não Charlie.

*Editorial publicado no jornal Momento do dia 15 de janeiro de 2015. 

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

“Turno integral é meta para 2016”, diz Davoglio

Lorenço Oliveira

Gil José Davoglio Foto: PMO/Arquivo
OSÓRIOApós ser empossado como novo Coordenador da 11º Regional de Educação (CRE), Gil José Davoglio começou a articular as possibilidades da implantação do turno integral em Osório para 2016. A meta é uma das expectativas da nova gestão da Secretaria Estadual da Educação, que nomeou 30 novos coordenadores na última segunda-feira (12). Davoglio passa a representar o Estado nos municípios do Litoral Norte.

O novo coordenador apontou que há, pelo menos, dois aspectos a serem verificados nas escolas osorienses para torna-las de turno integral: “espaço físico e material humano”. “O ano de 2015 será de análise das instituições para perceber a viabilidade do turno integral”, explicou Davoglio.

Esta medida pensada pelo novo Governo bate de frente com um caso específico em Osório. A Escola Estadual de Ensino Fundamental (EEEF) Prof. Milton Pacheco, mais conhecida como “CIEP”, está há 12 anos com processos para adaptar a instituição para o Ensino Médio. “Já existe um parecer favorável da Seduc [Secretaria Estadual da Educação] para implantação do 2º Grau [Ensino Médio]”, garantiu a diretora da escola Marlene Lessa.

Gil José Davoglio disse que vai analisar a situação da EEEF Prof. Milton Pacheco e que ainda não tem uma definição sobre a questão. Lessa pretende marcar uma audiência com o novo coordenador na próxima semana.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

“A beleza da forma dá crédito ao sentido”

Aguinsky em ação: esculturas pesam de 30 quilos a 4 toneladas Foto: Paulo Aguinsky/Divulgação
Em entrevista ao jornal Momento, o premiado escultor gaúcho Paulo Aguinsky fala sobre seus métodos de trabalho e sobre a exposição “Nexo da Forma” que abre hoje em Capão da Canoa

Lorenço Oliveira

CAPÃO DA CANOAPaulo Aguinsky é um escultor calejado. Mas não no sentido literal da palavra, com mãos gastas de tanto esculpir. Aos 72 anos, Aguinsky é do tipo que coleciona prêmios na Europa, como as Medalhas de Ouro, Prata e Bronze no Salão dos Artistas Franceses, Medalha da Cidade de Paris e o Prêmio Taylor de Escultura. Também representou o Brasil em diversas exposições em vários países do mundo. Nascido em São Borja, é médico cirurgião, o que ele acredita ter lhe ajudado com a precisão e a habilidade no manuseio com instrumentos. Sua mais nova exposição, “Nexo da Forma: no Universo da Pedra”, com 23 obras feitas em granito, basalto e mármore, vai de hoje a 28 de fevereiro, na loja Redemac Zona Nova, em Capão da Canoa. Confira abaixo a entrevista concedida nesta sexta-feira (9) pela manhã.


Jornal Momento – Como foi que começou o seu interesse pela escultura?
Paulo Aguinsky – Eu faço esculturas desde os 15 anos de idade. E eu me interessei acidentalmente. Com a argila eu comecei a ver que era maleável, e aí passei a fazer esculturas. Acidental. Não foi nada induzido ou algo escolar. Foi circunstancial.

JM – Há uma história de que seus pais tinham casa aqui na praia e você começou brincando na areia...
PA – Esse é link que existe com Capão da Canoa não é acidental. Antes de fazer esculturas com argila eu fazia com areia na beira da praia. Eu vinha veranear todos os anos. No início, nem existia a Zona Nova [bairro], naquele tempo ela era um deserto. Meus pais tinham um apartamento no centro. Depois, tivemos um das primeiras casas que surgiram na Zona Nova. E eu vinha muito pescar por aqui, já que era mais afastado do centro. E eu costuma ir para a beira da praia fazer esculturas. Era uma recreação. Acho que aí seja o momento mais antigo que eu tenha em relação a arte de esculpir.

JM – Você disse em outras entrevistas que a sua formação médica lhe ajudou na precisão e na habilidade. De que outras formas a medicina interferiu ou influenciou no seu trabalho?
PA – Medicina não tem nada a ver com arte. Uma coisa é essencialmente técnica e tu segue linhas rígidas. Tu não pode inventar nada na barriga de um paciente. Então tem aquele limite, que a medicina é conhecimento científico e habilidade de tu saber usar esse conhecimento. E se tu é cirurgião, você tem habilidade física de atuar naquilo ali. Tanto você pode usar na escultura como na cirurgia. Uma na realidade ajuda a outra. Se eu não estou operando eu estou esculpindo. Eu estou desenvolvendo a minha capacidade manual, usar as mãos para uma ação. Mas o que a medicina foi realmente muito importante é no apoio técnico da sistemática de como eu fui capaz de aprender a usar os meus instrumentos para a escultura. Um escultor não ortodoxo como eu, ele pega um material usa aqui, experimenta outro. Eu não. Eu preparo a minha mesa para a escultura, com as máquinas, como se fosse fazer uma cirurgia. Então, eu sei direitinho cada etapa, eu não uso o instrumento errado, eu uso exatamente para cada parte e eu vou trocando. Eu aprendi uma sistemática de trabalho. E eu acho que isso foi muito prático. Isso me deu método de ação.

JM – Em outro momento você disse que se interessa mais pela forma do que pelo simbolismo. O que você quis dizer com isso?
PA – Não existe no humano nada de informal que não seja simbólico. Toda a forma do ser humano tem um significado. As pessoas vão perguntar “o que é isso?” e tu vai ter que achar uma resposta para aquilo ali. Porque ele não vai sair dali satisfeito, mesmo que tu diga qualquer coisa, ele diz “não, isso não é isso”. Ele vai ter que achar o encontro entre a forma e o que ele acha. “Não, isso aqui representa o crescimento de uma semente...”, aí o cara “ahhhhh, tá”. Então, a mente não permite que tu tenha uma forma sem nome. O nome é fundamental. O nosso sistema de pensamento sempre tem que ter um significado. A forma só tem valor quando ela tem significado. Então, eu não dou bola para o significado. Eu faço a forma. E eu encontro o significado, eu invento o significado. Que é o que se faz com a arte moderna hoje. Eu prezo mais pela forma do que pelo simbolismo. Por que a forma traz em si um aspecto de beleza e de estética. E o sentido não. O sentido não tem estética. O sentido não tem forma. Eu poderia resumir assim: a beleza da forma dá crédito ao sentido, inventei essa frase agora. Mas eu acredito nisso aí mesmo.

Peixe Vermelho. Em mármore. Medalha de Ouro "Le Salon 98" - Salão dos Artistas Franceses - Paris Foto: Paulo Aguinsky/Divulgação 
JM – Eu reparei que em algumas obras você deixa um pouco da pedra bruta...
PA – Aquilo ali é atávico, no sentido da memória. Até o próprio título dessa exposição eu gosto muito “Nexo da Forma”. A forma só tem nexo porque nós humanos damos esse nexo. Por que a pedra em sí não escolheu forma, é tudo ocasional. O universo todo tem pedras, meteoritos e formas diferentes. Então a forma quem dá o significado é o humano. Então, aqueles fragmentos ali, que eu diria, sem nexo, que é a pedra bruta, eu dou um sentido de natureza, eles eram assim. Até talvez uma vaidade para dizer “tudo era bruto e eu transformei isso em algo novo”. Eu gosto de deixar aquilo ali desde que não interfira no contexto. Dá um efeito técnico, de ter uma superfície muito grande, muito lisa e deixar algo ali. Quebrar o olhar sem perder a qualidade. E não é uma novidade isso aí. Outros escultores também fazem isso.

JM – Como é que foi este episódio em que lhe encomendaram uma peça para dar de presente ao presidente da China?
PA – Isso foi quando o presidente da China veio ao Brasil. Eu estava fazendo um projeto a nível nacional que se chamava “Pedras do Brasil”. E esse projeto foi a pedido da presidente, quando ela era ministra, pois já conhecia o meu trabalho. Eu ia a Europa e tinha muitos blocos de pedra, porque o Brasil é um dos maiores produtores de granito do mundo. São os melhores e mais bonitos. E aí, chega na Itália, eles apagam “Brasil” e colocam “Itália”. Exportam pro Japão, China etc. Eles cortam em lâminas e exportam pra lá. Em todos os aeroportos, você pode ver, tem granito e a maioria é aqui do Brasil, grande parte, como se fosse da Itália. E eu reclamei que isso era uma pena. Porque a pedra é uma identidade de um lugar qualquer. Se tu morar numa vila, lá em Caçapava, você vai ter uma pedra, que é a pedra da minha terra. Ela é única e não tem em lugar nenhum do mundo. Ela, sozinha, é uma identidade e o mineral é também, o que dá uma dupla identidade. Eu acho que a pedra é a identidade de um local. Nem de um país, de um município, vamos dizer. E eu reclamei que lá estava sendo explorado as pedras do Brasil, a identidade dos locais produtores, promovendo países que não tinham nada a ver com a história. Aí eles pediram uma ideia e eu sugeri de fazer uma exposição itinerante chamada “Pedras do Brasil”. E cada pedra, que vai no catálogo, vai o nome do município. E todo mundo quer uma pedra de seu município esculpida. Eu estava nesse evento, então, quando veio o presidente da China [Hu Jintao] e ela [Dilma] pediu uma sugestão de presente para ele. “Vamos fazer algo simbólico da China que seja de fácil leitura com uma pedra que tenha grande significado”, eu disse. Então eu peguei aquele mármore verde que é de Caçapava do Sul, uma pedra que tem 600 milhões de anos e fiz uma tartaruga que é um símbolo muito forte na China. E eles gostaram muito porque é uma pedra raríssima que só existe ali naquela região. Parece uma esmeralda e o nome se deu “Tartaruga Marinha”, em função dos aspectos de conservação dos animais. Tem esse significado político e social e a China estava entrando num programa ecológico e a tartaruga lá é muito respeitada. Eu já havia feito uma tartaruga para um chinês, há uns 5 anos antes, mas ele não comprou. Não comprou porque a tartaruga olhava para o lado. Na China, a tartaruga é símbolo de algo perene e de “olhar pra frente”. Então, quando eu fiz esta de presente, eu disse “não vou errar agora”. E hoje está num museu da China.

Torso Negro. Em basalto. Foto: Paulo Aguinsky/Divulgação


JM – Você já chegou a contabilizar quantas esculturas de pedra você já fez?
PA – Não tenho um número. Mas são muitas esculturas. Hoje eu faço relativamente rápido, porque eu tenho um instrumental muito bom. Tu vê que eu não tenho mãos de pedreiro, eu faço tudo requintadamente. E faço render muito. E eu nunca trabalho numa escultura apenas, eu trabalho em três a quatro ao mesmo tempo. Porque enjoa. Aquelas grandes eu levo quatro anos fazendo. E às vezes tu tá fazendo e tu cria outra. Tu para tudo e vai pra lá. Aquilo é um momento, um flash. Essas aí [esculturas monumentais] são feitas em maquete primeiro. Então são duas técnicas: uma que eu faço o projeto, maquete, procuro a pedra e então começo a desbastar. E eu tenho que seguir rigorosamente, tem que seguir uma forma. A outra técnica é o entalhe direto: uma pedra bruta, que tu vai esculpindo e vendo no que vai dar. Essa técnica exige muita concentração porque tu tem que seguir uma linha de raciocínio que é inconsciente. Tu não sabe o que que vai dar. Eu diria que é como dirigir na estrada. Você tá pensando em outra coisa e tu está guiando. Que é o caso da maioria das pedras que estão expostas aqui hoje. Por exemplo, aquele peixe medalha de ouro, tem uma asa vermelha. Toda a escultura foi a partir da asa vermelha que eu achei ali. É muito vibrante isso porque na confecção da obra tu vai te emocionando, tu vai te surpreendendo com cada evento e acontecimento. Por mais que eu explique eu vou sempre inventar uma história que não vai ter uma relação concreta, é algo inconsciente. Tu mesmo vai te surpreender depois com o que tu fez. É uma análise a posteriori.

JM – Quando você está fazendo entalhe direto, você costuma se concentrar numa obra só?
PA – No entalhe direto você entra em transe. É uma coisa muito ruim, porque a concentração excede tua visão externa. Tu vê a tua mão trabalhando. Como se você estivesse ali atuando de forma autônoma, sem interferência da razão. Se entrar a razão, você é capaz de tirar um pedaço que não devia. Porque a razão é  baseada em princípios lógicos. De cubo, de cilindro, de reta, de linhas. E o inconsciente é como um sonho. O sonho nunca tem pé nem cabeça, depois tu tem que interpretar. E o entalhe direto tu tem que treinar isso. Mas tu não pode interferir no teu processo com a razão.


Nexo da Forma: no Universo da Pedra, de Paulo Aguinsky
De 10 de janeiro a 28 de fevereiro, na Redemac Zona Nova Center (Avenida Paraguassú, 1332 – Capão da Canoa). Entrada Franca



Blocos cirúrgico e obstétrico devem reabrir semana que vem no Hospital de Osório

Hospital concluiu instalação de novo sistema de ar e já pediu vistoria da Vigilância Sanitária para hoje. Previsão é de reabrir quatro salas na segunda-feira (12)

Lorenço Oliveira

Após liberação da Vigilância Sanitária,
salas de cirurgia podem reabrir a partir
de segunda-feira (12)
Foto: Lorenço Oliveira/Momento
OSÓRIO – Cirurgias e partos devem voltar a acontecer a partir de segunda-feira (12) no Hospital Beneficente São Vicente de Paulo. Nesta quinta-feira (8) foi concluída a instalação do novo sistema de ar nos blocos cirúrgicos e obstétricos. A Vigilância Sanitária já foi comunicada para realizar vistoria nas alas que ainda estão fechadas desde maio. O setor foi interditado em razão do incêndio que atingiu a instituição.
 
O hospital de Osório reabriu no dia 24 de dezembro, mas os setores de cirurgias e obstetrícia seguiram interditados. O presidente da instituição Francisco Moro disse que foi preciso instalar um novo sistema de ar para que as áreas fossem liberadas para uso. Foram instalados quatro insufladores (com capacidade de 75 m³/h cada) e quatro exaustores (com capacidade de 15 m³/h cada) em três salas de cirurgia e uma de recuperação.

“Estamos de acordo com o rigor do figurino. Desconheço no Rio Grande do Sul algum hospital que tenha sistema semelhante ao que estamos implantando aqui em Osório”, exaltou Moro. O novo sistema deve garantir maior proteção aos pacientes contra contaminações externas vindas do ar.

Além dos blocos cirúrgicos, a emergência do hospital segue fechada para obras. De acordo com a instituição, a previsão é concluir a reforma em março deste ano. Por enquanto, a orientação é que a população procure a urgência do Posto de Saúde (Rua Garibaldi, 255, Centro).

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Santo Antônio vai administrar Hospital durante transição para nova entidade

Grupo que administra hospital em Roque Gonzáles deve gerir instituição em Santo Antônio.
Foto: Lorenço Oliveira/Momento
Profissionais da Secretaria Municipal da Saúde irão trabalhar na instituição enquanto Estado não efetivar troca de administração, que deve levar alguns dias

Lorenço Oliveira

SANTO ANTÔNIO DA PATRULHA – “O atendimento segue normalmente”, garantiu o prefeito Paulo Roberto Bier sobre a troca de gestão do Hospital Municipal. Devido o encerramento das atividades do Sistema de Saúde Mãe de Deus (SSMD) nesta quarta-feira (7), a instituição seguirá gerida pelo município temporariamente, que irá recontratar profissionais e deslocar outros do Posto de Saúde.

O executivo patrulhense já fechou parceria com uma nova entidade que irá gerenciar o Hospital. Segundo o prefeito, foram vários meses de negociação com diversos grupos hospitalares. “Por indicação, chegamos a um grupo de gerenciamento de empresas que atualmente comanda o Hospital de Caridade Santo Antônio, em Roque Gonzáles”, informou Bier.

No entanto, a nova entidade só poderá assumir a administração do hospital quando o contrato entre Estado e o Mãe de Deus for rompido. “Agora vai depender da burocracia. O Estado rescindirá amanhã [quinta-feira, 8] com o Mãe de Deus, mas o novo contrato deve levar alguns dias”, explicou o prefeito de Santo Antônio da Patrulha.

No fim de dezembro, o Ex-Coordenador da 18º Regional de Saúde, Luiz Genaro Fígoli, afirmou que a vigência do contrato entre o SSMD e o Estado era até dia 27 de fevereiro. Apesar disso, o grupo Mãe de Deus manifestou-se em comunicado a imprensa de que “no dia 7 de janeiro de 2015 encerrará a sua atuação na gestão e na operação do Hospital de Santo Antônio”.

Paulo Roberto Bier garante que não haverá perda de qualidade no atendimento médico em Santo Antônio da Patrulha. “Espero que essa transição seja o mais rápido possível, pois o município não poderá gerir por muito tempo”, alertou o prefeito.

*Matéria publicada originalmente na edição de 8 de janeiro de 2015 do jornal Momento.