quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Editorial: Ser ou não ser Charlie?

Lorenço Oliveira

Capa do Charlie Hebdo, após os ataques
que mataram 12 pessoas em Paris:
"Tudo está perdoado"
O leitor do Momento sabe que há anos este diário não aborda questões internacionais. Por motivos lógicos, as notícias veiculadas aqui são locais, regionais e, no máximo, nacionais. Apesar disso, o jornal entende que não há como ignorar alguns fatos globais. Economia e política, por exemplo, estão intimamente ligadas ao noticiário de fora do país. A crise financeira de 2008 ilustra bem como um fato externo pode alterar a nossa vida, além de entrar para os livros de história.

Na quarta-feira passada (7), a sede de um jornal satírico francês, Charlie Hebdo, foi invadida por três terroristas que mataram 12 pessoas e deixaram vários feridos no centro de Paris. A França emitiu um alerta máximo contra o terrorismo e iniciou uma caçada aos atiradores. Após um cerco de três dias, eles foram localizados e mortos por agentes franceses.

Houve uma grande comoção mundial, principalmente nas redes sociais, onde pessoas manifestaram seu apoio ao jornal declarando “eu sou Charlie” (no francês je suis Charlie). No domingo (11), 3,7 milhões se reuniram em marchas contra o terrorismo, incluindo líderes de diversos paises, entre eles Israel e Palestina. Foi o maior protesto da história da França.

Mas o leitor deve se perguntar: por que este fato é tão importante que precise estar num jornal local? Nós respondemos: a liberdade de expressão.

O Charlie Hebdo nasceu em 1969, na esteira das históricas manifestações de Maio de 1968, considerado uma versão francesa do Pasquim brasileiro. Sempre provocativo e com opiniões fortes, o semanário traz charges e piadas com famosos, empresas, governos e religiões. O fundamentalismo islâmico foi um dos últimos alvos do humor de Charlie. A Al Qaeda do Iêmen assumiu a autoria do atentado da semana passada, que não foi dirigido apenas ao ser humano. Foi um golpe certeiro à liberdade de expressão.

O jornal Momento é Charlie. Mas o leitor pode não concordar com as piadas dos franceses e até evocar que “não é Charlie” (je ne suis pa Charlie). Afinal, o semanário já satirizou o profeta do islamismo Maomé e o fez, novamente, em sua capa mais recente (a edição foi traduzida para 16 idiomas e teve tiragem de 5 milhões de exemplares). No entanto, a liberdade de expressão e crítica merece ser preservada e protegida. Tanto para quem é ou não Charlie.

*Editorial publicado no jornal Momento do dia 15 de janeiro de 2015. 

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