sexta-feira, 14 de agosto de 2015

"Primavera em Porto"

Às vezes me pego fazendo faxinas nos meus e-mails no meio da manhã. Numa dessas, encontrei um e-mail na pasta "Spam" que, definitivamente, não devia estar ali. Era um e-mail da International Photography Awards (IPA) me avisando que faltava um dia para terminar as inscrições no concurso deste ano. Então, caiu a ficha.

Lembrei que inscrevi uma fotografia neste concurso. Apenas uma. A foto que mais gostei da última viagem à trabalho/lazer que fiz à Portugal e Itália, em meados de abril. Por algum motivo, me senti obrigado a tentar a sorte numa competição naquela ideia de "vai que dá, né?".

"Spring in Porto" (22 april 2015). Crédito: Lorenço Oliveira (@lorencooliveira)

Sempre tive um gosto especial pela fotografia, principalmente pelo estilo "candid photography", cujo ídolo maior é Cartier-Bresson. Na faculdade, confesso que nunca me puxei o bastante para aprender as técnicas de fotometria com excelência. Meus professores gostavam das minhas composições, diziam que eu tinha "olhar", mas me faltava prática. Durante as disciplinas, conseguia "resolver" a problemática das pautas. Com algum esforço, mas resolvia. Passei nas "cadeiras" e praticamente abandonei a atividade em prol de outras.

Voltando a foto acima. Trata-se de uma tarde ensolarada em Porto, no mirante, onde o oceano Atlântico entra em contato com o rio Douro. Em poucos minutos que fiquei ali sentado, observando as pessoas, algumas tiravam fotos, outras conversavam, outras apenas apreciavam a paisagem. E crianças. Elas sempre estão por lá.

Chega aquele instante que todo aspirante de fotógrafo tem quando vê uma foto passar pela sua retina. Pego a câmera ou não? Tiro a foto ou não? O que fazer? Todos os pré-julgamentos sobre determinada situação passam pela sua cabeça.

Será que não vou ser invasivo? Na tempestade de pensamentos, decido tirar o celular do bolso e tentar um movimento menos perceptivo. Pensei: é isso! Desbloqueei a câmera, enquadrei e... esperei.

Esperar. Talvez uma das coisas que mais faço antes de tirar qualquer foto. Esperar o instante, ao invés de sair metralhando o botão do disparo. Sem contar que a memória do IPhone se esgotava rápido em minhas mãos. Meu apego com cada imagem é muito grande.

Ouvi o chamado de meu irmão, que já se afastava do mirante. Esperei mais alguns segundos. O tempo se esgotou, mas de repente as meninas olham pra mim. Eram muito parecidas, mas os olhares de cada uma eram diferentes. Quando a primeira desviou... "click". Levantei e sai.

Pode parecer rude da minha parte e até anti-ético fazer este tipo de foto de menores, sem permissão. Muitos não concordam com isso. Também fiquei com este peso na consciência. Percebi, no entanto, que era uma foto necessária. Hesitei muito até publicar esta imagem em meu Instagram, mas postei alguns dias depois.

Às vezes é preciso tomar decisões e arriscar. Passo todos os dias por isso, quando preciso escolher. Não tenho expectativas de que minha imagem ganhe alguma coisa no concurso do IPA. Não é para isso que faço fotografias. Sigo sendo um amador na arte das imagens. Ainda conservo esperanças de melhorar a técnica e poder lidar melhor com as situações que percebo em minha frente.

Mas... "vai que dá, né?"

E se "der", espero voltar a Porto e tentar reencontrar essas meninas. É mínimo que devo fazer. 


*Pretendo escrever com mais frequência neste meu blog a partir de agora. Reservei este espaço nos últimos tempos como portfolio, mas hoje sinto vontade de escrever mais coisas e dividir mais experiências. Espero que gostem. Comentem e me deem sugestões, se quiserem! ;)





sexta-feira, 1 de maio de 2015

Greves e protestos marcam Dia do Trabalho

Organizações sociais e sindicais em protesto bem humorado contra projeto que regulamenta o sistema de terceirização, no dia 15 de abril na Cinelândia, no Rio de Janeiro.
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Lorenço Oliveira

 “Não vos aconselho o trabalho, mas a luta. Não vos aconselho a paz, mas a vitória! Seja o vosso trabalho uma luta! Seja a vossa paz uma vitória”.

Entidades trabalhistas de todo o país saem às ruas hoje para comemorar o Dia do Trabalho. Os direitos dos trabalhadores, no entanto, passam por um momento delicado no Brasil. Greves e protestos devem marcar a data neste ano, motivados por atrasos de salários, modificações na previdência, alterações na concessão de seguros, além do fantasma da terceirização, que está de volta. O primeiro de maio de 2015 está à flor da pele, em luta constante.

A principal reivindicação das centrais sindicais é contra a terceirização do trabalho no país. O Projeto de Lei 4.330/04, aprovado pela Câmara dos Deputados na semana passada, propõe que empresas privadas possam terceirizar todas as atividades, e não apenas atividades-meio. A matéria segue para o Senado, cujo presidente já adiantou que não aceitará o texto de forma “ampla e irrestrita”.

No último dia 15 de abril, houve manifestações em várias capitais contra o projeto (vide foto). Para as centrais sindicais a proposta retira direitos trabalhistas históricos, já que permitiria a terceirização sem limites, em todas as funções de qualquer empresa e setor. Hoje, em São Paulo, haverá um ato conjunto de organizações e movimentos sociais, estudantil e sindical.  A Central Única dos Trabalhadores (CUT) deve levar milhares ao Vale do Anhangabaú, onde serão levantadas as históricas bandeiras em defesa dos direitos trabalhistas. Além disso, estão na pauta a defesa da Petrobrás e a reforma política.

“Em protesto pela intervenção militar você é tratado com educação. Em protesto pela educação você é tratado com intervenção militar”. Esta é uma das frases que mais circulou no Twitter nesta quarta-feira (29), dia em que uma forte repressão policial estarreceu a população e as redes sociais. Curitiba foi centro de uma batalha campal, nunca mais vista desde a ditadura militar. Cerca de 200 professores e servidores paranaenses ficaram feridos em confronto com a polícia, durante protesto contra a aprovação da lei que muda a previdência estadual.

Em repúdio ao massacre, o magistério de pelo menos mais 10 estados devem iniciar uma greve nacional nesta sexta-feira, segundo entidades filiadas a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE). Além do Paraná, os professores dos estados de São Paulo, Santa Catarina, Pernambuco e Pará também estão em greve há mais de um mês.

A citação do início do texto foi retirada de Assim Falou Zaratustra, a obra máxima do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, publicada entre 1883 e 1885. O livro antecede os primeiros movimentos de luta dos trabalhadores, culminados no dia 1º de maio de 1886, em Chicago, nos Estados Unidos, e permanece atual até hoje. Feliz Dia do Trabalho! Feliz Dia da Luta!

*Artigo publicado no Momento do dia 1º de maio de 2015 


sexta-feira, 10 de abril de 2015

CARTEL DO LIXO: Em nota, Abrahão diz que boatos são “irresponsáveis e dantescos”

Documento vazado na internet apontou nomes de políticos osorienses e do Litoral Norte

Lorenço Oliveira

OSÓRIO – O prefeito Eduardo Abrahão desclassificou nesta quinta-feira (9) o documento que aponta seu nome, e de outros políticos, como recebedor de propina, no esquema investigado pela Operação Conexion, do Ministério Público. Em nota de esclarecimento, Abrahão acusou de “mau caráter” as pessoas que espalharam os boatos sobre seu envolvimento no Cartel do Lixo e considerou-os “irresponsáveis e dantescos”.

Ainda em nota, o Executivo diz que não foram encontradas irregularidades envolvendo nenhum dos nomes citados no documento vazado na internet. De acordo com o MP, a primeira fase da operação apontou apenas empresários do ramo da coleta de lixo. O órgão não descartou a existência de uma nova fase para investigar gestores públicos.

O processo, que corria em sigilo, investiga há dois anos fraudes em licitações em empresas de coleta de lixo. De acordo com a assessoria do juiz responsável pelo caso Maurício da Rosa Ávila, o processo possui atualmente 20 volumes, com cerca de 200 páginas cada.

A polêmica tomou pé na Câmara dos Vereadores na última segunda-feira (6), através do vereador Roger Caputi (PMDB), que pedia explicações do chefe do Executivo sobre a citação de seu nome na página 62 do processo, que foi vazada. Na ocasião, o vereador Rossano Teixeira (PP) irritou-se e levantou a voz em defesa de Abrahão.

“Eu admito que perdi as estribeiras”, lamentou Teixeira ao jornal Momento. “Mas não admito que falem mal dos meus amigos e de pessoas idôneas como o prefeito”. Em entrevista à rádio Momento, Caputi diz estar fazendo seu papel de oposição.

A Operação Conexion, deflagrada no mês passado, prendeu seis pessoas e denunciou 37 empresários, sendo 11 deles do Litoral Norte. Há proprietários de vários municípios, entre eles Santo Antônio da Patrulha, Tramandaí e Torres. A denúncia foi apresentada na Vara Criminal de Torres no dia 25 de março.

*Matéria publicada originalmente na capa do jornal Momento do dia 10 de abril de 2015.


Ética e Credibilidade

Carta do Editor | Lorenço Oliveira

Para alguns, Caputi jogou como um político de oposição, dando cheque no rei. Para outros, Caputi jogou como um político irresponsável, dando golpe baixo. Para mim, Caputi acendeu dois pontos essenciais no jornalismo: ética e credibilidade.

A polêmica da semana começou na segunda-feira (6), quando Roger Caputi (PMDB) provocou a bancada da situação sobre a exposição do nome do prefeito Eduardo Abrahão (PDT) numa lista de políticos envolvidos com o Cartel do Lixo, investigado pela Operação Conexion, do Ministério Público.

O documento que cita políticos é de extrema relevância. No entanto, é importante ter cuidado na divulgação, ainda mais, em uma cidade relativamente pequena como Osório. Caputi procurou tirar a limpo a veracidade da coisa e se surpreendeu que a imagem veiculada em blogs realmente consta nos autos.

A página 62, mencionada pelo vereador, é um esboço feito por um delator de Arroio do Sal, que sentiu necessidade de contribuir com as investigações. No Momento de quarta-feira (8), publiquei que o documento não tem relação com a Operação Conexion. A assessoria de comunicação do Ministério Público disse que o documento é suspeito, pois nenhum dos citados está nas denúncias do mês passado. Eu, como jornalista, também duvidei da veracidade, visto que ao consultar o histórico do blog que inicialmente vazou a imagem, a postagem não existe mais.

Não compactuo em fazer este tipo de jornalismo, que espinafra acusações ao vento e depois retirar as coisas do ar. Isso tira a credibilidade da informação. Também não acho ético dar ferramentas a políticos. Alguns acreditam que Caputi deu tiro no pé, ao embarcar nesta história, visto que trabalha na empresa de coleta de lixo de Osório. O prefeito utilizou isso para rebater a crítica e saiu feliz.

O que quero deixar claro aqui é que, para ser levado a sério como jornalista, devo me assegurar para não embarcar em histórias infundadas. Apesar da máxima “onde há fumaça, há fogo”, o documento utilizado por Caputi está no primeiro volume de um processo que possui vinte. É uma página de três mil. A suposta delação não gerou consequências e pode ser encarada como fogo de palha.

Se o Ministério Público está na cola de Abrahão, não sabemos. Por enquanto, não há, concretamente, políticos envolvidos no esquema. O Momento não pretende esquecer o assunto, mas também não vai fazer injustiças.

* Carta publicada na página 2 do jornal Momento do dia 10 de abril de 2015.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Sem opinião de promotor, proposta sobre “difícil provimento” será exposta na sexta

Comissão que discutiu o benefício entregará sugestão para prefeito retificar a lei

Expectativa da Câmara de Vereadores é votar alteração da lei na próxima sessão (13). Registro feito na segunda-feira (6) Foto: Lorenço Oliveira/Momento


Lorenço Oliveira

OSÓRIO – O presidente da Câmara dos Vereadores, o vereador Gilmar Luz (PDT), marcou reunião para apreciar uma sugestão de alteração da Lei do “difícil provimento” nas escolas municipais. Luz aguardava um parecer do Ministério Público sobre a proposta, mas decidiu levá-la mesmo assim ao conhecimento da comunidade nesta sexta-feira (10). O encontro será às 13h30, no plenário do Legislativo.

Uma Comissão Especial foi formada em 11 de março para discutir o benefício entre professores e entidades representativas. O principal objetivo era estabelecer os percentuais de pagamento para cada distância (entre as escolas e a sede do município, interpretada como o prédio da prefeitura).

Após a conclusão dos valores, o presidente do Legislativo tentou contato com o Promotor de Justiça de Osório, Luiz César Gonçalves Balaguez, mas não conseguiu retorno.

“Tentei encaminhar a matéria para ele [Balaguez], mas ele segue de férias. Na verdade, o parecer dele não é necessário, mas estávamos contando com a sua opinião”, explicou o vereador, em conversa com o Momento no final da última sessão (6).

Segundo Gilmar Luz, a expectativa é que a proposta seja aceita pelos professores e servidores para, então, ser encaminhada ao Executivo. “Nós não temos poder para retificar a lei. A Comissão produziu uma sugestão para o prefeito. Após isso, o Executivo deve enviar ao Legislativo um substitutivo do Projeto de Lei. A expectativa é votar na próxima sessão [13]”.

O Projeto de Lei 007/2015, que altera dispositivos da Lei Municipal nº 3.839, de 14 de maio de 2006, foi encaminhado pelo Executivo no início do ano e tentou ser aprovado em sessão extraordinária. O MP, no entanto, interferiu na questão e ameaçou acionar uma ação civil pública sobre a inconstitucionalidade da lei.

A pressão do Promotor fez com que o Executivo pedisse que os vereadores discutissem o tema com os professores e servidores das escolas municipais. Após algumas reuniões, foi formada a Comissão Especial com três vereadores: Rossano Teixeira (PP), Ed Moraes (PMDB) e Gilmar Luz (PDT). Além deles, fizeram parte do grupo cinco professores das escolas e representantes do Conselho Municipal de Educação e do Sindicato dos Servidores de Osório.


*Matéria publicada originalmente na capa do jornal Momento de 9 de abril de 2015