quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Secretário Municipal da Saúde vai pedir sindicância para apurar informações sobre raio-x em Imbé

Equipamento radiológico doado em 1997 não possui registros oficiais; Ex-gestor suspeita que aparelho tenha sido enterrado em parque de rodeios

Lorenço Oliveira

IMBÉ – A Secretaria Municipal da Saúde de Imbé vai pedir a abertura de uma sindicância a fim de apurar informações sobre um aparelho de raio-x, do Posto de Saúde 24 horas. A máquina, doada pelo extinto Lions Club de Imbé em 1997, operou durante anos, mas não possui registros de entrada e saída no Setor de Patrimônio da prefeitura. O pedido de abertura do processo deve chegar à análise do prefeito no início da semana que vêm. Um ex-gestor da prefeitura suspeita que o equipamento de radiografia tenha sido enterrado no Parque de Eventos Petronilho Luciano Dias, no distrito de Santa Terezinha, onde é realizado o rodeio municipal.

O Momento pediu através da Lei de Acesso a Informação (N° 12.527 de 2011), informações sobre o antigo aparelho em 30 de outubro deste ano. Segundo o Secretário Municipal da Saúde, Leandro Candiago, o Setor de Patrimônio da prefeitura declarou que “nada consta nos registros do setor” e que “não havia o hábito de comunicar as doações nesta época, visto também que não existia a Lei de Responsabilidade Fiscal [Lei Complementar N° 101, de 2000]”.

Com a inexistência de documentação sobre o respectivo aparelho, Candiago pretende encaminhar um processo de sindicância ao Prefeito de Imbé, Pierre Emerim da Rosa (PT). “O pedido será feito até o final dessa semana e devemos ter uma posição do prefeito no início da semana que vêm”, disse ontem o secretário.

Raio-x foi doado ao município pelo extinto Lions Club de Imbé. O jornal Momento teve acesso com exclusividade ao documento com foto anexada. Reprodução de documento/Lions Club Imbé
A denúncia de que o aparelho de raio-x, doado pelo Lions Club de Imbé em 1997, não teria registros oficiais na prefeitura foi feita pelo ex-gestor municipal e atual presidente do Partido da República (PR) em Imbé, Guaraci Jacques de Souza. “Onde foi parar esse raio-x? Este aparelho é controlado pelo CNEN [Comissão de Energia Nuclear] e precisa ter registros de tombamento, se foi vendido ou se foi a leilão”, protesta Guaraci. “A minha suspeita é de que esse aparelho está enterrado no parque de rodeios, por que já foram encontrados outros lixos enterrados lá”.

A inexistência de documentação no Setor de Patrimônio da prefeitura de Imbé levanta a suspeita de Guaraci. No entanto, o ex-gestor não possui provas de que o aparelho tenha realmente sido enterrado.

A comparação com o acidente radiológico ocorrido em Goiânia em 1987, conhecido como “o acidente com Césio 137”, é comum, e Guaraci utiliza deste argumento para polemizar ainda mais o assunto. Naquela ocasião, um aparelho de radioterapia foi encontrado num ferro-velho e desmontado, liberando a substância radioativa. A contaminação afetou 1.600 pessoas e matou 104. O episódio foi considerado o maior acidente radioativo do mundo fora de usina nucleares.

O acidente em Goiânia envolveu um equipamento de radioterapia, comum em tratamento de câncer, o que é diferente do raio-x. A pesquisadora titular do escritório do CNEN em Porto Alegre, Ana Maria Xavier, garante que “o aparelho de raio-x não possui material radioativo e não emite radiação quando desligados”. Para a pesquisadora, caso se configurasse um problema, não seria radiológico, mas químico. “O fluido de refrigeração usado nos equipamentos de raio-x mais antigos pode ter sido o Ascarel, que tem propriedades tóxicas”, complementa.

Conflito político

Guaraci concorreu a vereador de Imbé em 2004 pela coligação PR, PDT, PT, PL e PFL, mas não foi eleito. Em 2012, com a vitória de Pierre Emerim da Rosa (PT), tornou-se assessor no setor de contratos de convênios da prefeitura.

Nei Jurandir Jacques de Souza, irmão de Guaraci e também do PR, entrou como diretor do Parque de Eventos Petronilho Luciano Dias. Jorge Luiz Ferreira, outro membro do PR, que ficou de suplente nas eleições para a Câmara de Vereadores, em 2012, tornou-se guarda noturno do parque.

Após um ano e três meses, o PR rompeu com a prefeitura.Guaraci, Nei e Jorge saíram. Outros dois membros do PR, um eletricista e um fotógrafo continuaram com os cargos. “Saímos por que não havia mais condições. Tem muita coisa errada”, protestou Nei.

A partir daí, Guaraci tornou-se um ativo agitador de denúncias sobre as questões envolvendo o Parque de Eventos. Em 11 de agosto deste ano, o ex-gestor denunciou o fato ao Ministério Público Federal, encaminhando um ofício ao Procurador Geral da República em Capão da Canoa, Felipe da Silva Muller. A denúncia foi repassada ao Ministério Público de Tramandaí, que está sendo analisada pelo Promotor de Justiça Antonio Metzger Képes.

Além de denúncias formais, Guaraci também divulga em sua página no Facebook dezenas de ofícios e resumos sobre a possibilidade de crime ambiental e contaminação por Césio 137 pelo suposto sumiço do aparelho de raio-x.


Em um compartilhamento da rede social, a técnica de radiologia Andréa Pereira faz o questionamento ao Prefeito municipal Pierre Emerim da Rosa. O executivo respondeu, em 4 de outubro, “Sem comentários, notícia com resquício de loucura”.

Em página do Facebook, Prefeito de Imbé se manifesta sobre denúncias de Guaraci. Reprodução do Facebook modificada/Lorenço Oliveira 
*Reportagem publicada no jornal Momento no dia 27 de novembro de 2014.

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